quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Há "Mares" Que Vem Para o Bem

    Tomei a liberdade de utilizar a frase do terapeuta João Victor para o título deste texto.

    Vamos lá... 

    Ana passava por um momento de buscas, buscas por propósitos e motivações. 

    Vinha já há três anos em reflexão, numa luta diária para ver na vida algo que valesse a pena por ter acordado. Todos os dias era uma luta, literalmente, entre prós e contras, entre paz e tristezas, entre vida e morte... Um processo lento... Uma alquimia transformando cada pedaço dela, cada pensamento, autoestima aos pouco resgatada, dores do passado ressignificadas, cada dia... Uma luta.

    Olhar para o espelho e sorrir foi um exercício bom, um treino para conseguir sair de casa sem assustar tanto as pessoas. E foi dando certo! Ressignificando os traumas, ressignificando prioridades, ressignificando ações futuras.

    E Ana redescobriu sua força, sua beleza, seu corpo tantas vezes esquecido e usado como escudo para que ninguém se aproximasse ... Por longos três anos... Ela tinha voz, tinha luz, tinha perfume... E se reconectou com a Ana criança adormecida com sonhos e mundos maravilhosos para desbravar. Onde as pessoas eram boas e onde não haveriam perigos... Ela acreditava nisso pois, precisava se sentir segura para sair... Ao lado do sorriso gravado no espelho.

    As pessoas já não a assustavam mais. E Ana conheceu alguém.

    O que poderia ter sido um porto seguro na verdade foi o empurrão para o desconhecido e inesperado. No início deslumbrante, em meio a paixão e aventuras, alguns detalhes iam ficando sem importância. Chegar ao topo da montanha e apreciar a paisagem lindíssima, custava momentos de medo e de angústia por se sentir só nesta caminhada. E isso, na balança, ficava sem importância.

    Momentos incríveis, inesquecíveis... De fato.

    Momentos...

    Ana voltava para sua rotina e sentia o vazio, cada vez mais aumentando... Onde estava o alguém? Onde ela estava na vida deste alguém?

    Momentos...

    Não existia Ana na vida do outro... Existia o outro na vida de Ana, sempre, desde a hora que ela abria os olhos até a hora que ia deitar. E isso foi assim... Por anos. Onde foi parar a Ana, seu sorriso, sua luz? Cada dia era um passo, cada semana era um vazio... Entre indiferença e descaso... Até o próximo encontro, onde momentos bons maquiavam a infelicidade que já era tida como "normal".

    Anos... Ana... 

    Referências, terapias, amizades, família... Se tornaram o suporte para o resgate necessário e urgente.

    Ana percebeu aos poucos que havia esquecido de si, dos seus sonhos e dos seus propósitos.

    O resgate era necessário e urgente.

    Ana olhou no espelho... E sorriu... Ela ainda estava lá... Mas, alguém não viu.

    Ana juntou tudo num pacote, as grosserias, o descaso, a indiferença, a humilhação, a toxidade, o narcisismo, juntou tudo e levou para alguém.

    Houve um "tchau"... Mas, Ana não respondeu... Pois, já não importava responder. 

    Ali estava a Ana de volta ao mundo, que agora não a assustava mais... No porto seguro de si mesma.


(Juliana Priori)


    


Ser e Estar

Mais um ano, mais um tempo,
Ano bom... Com início, meio e fim...
Aprendendo a ouvir conselhos, e a seguir também,
Respirando e ganhando ar para apreciar melhor as paisagens!
Este foi 2015... Grata por tudo e por nada...
Reconhecendo que fazer mais do que se pode, muitas vezes, não nos leva a lugar nenhum.
Revendo aquela insistente mania de querer provar a todos que se vale a pena,
Com a segurança de quem sabe que vale!!!

domingo, 5 de maio de 2019

Por um pouco, tudo!

Dias passam e nossa rotina nos lembra dos afazeres e obrigações.
Tempo corrido, mesmo quando temos uma folguinha... Inventamos o que fazer.
Estava eu nesta roda viva, aproveitando minha folga fazendo aquela arrumação boa na casa, quando ouvi gritos de um cachorro... Olhei na varanda e ouvi uma pessoa na rua falando que havia sido atropelado.
No momento a dúvida entre parar o que estava fazendo, dentro da organização das horas do dia, ou parar tudo e "sacrificar" este bem tão precioso... O tempo!
Pois bem, parei... Desci do jeito que estava, desajeitada e descabelada, fui em direção a esquina pensando apenas em fazer algo, sem saber ao certo o que.
Do outro lado da avenida estava um senhor parado ao lado do cachorro e um rapaz, com cabelos cacheados, numa moto... Atravessei, olhei rapidamente o animal e conversei com os dois sobre o que tinha acontecido.
O rapaz saiu com a moto para estacionar e o senhor não poderia ajudar mais do que já tinha ajudado, naquele momento... Era uma cadelinha e ela estava sentindo dor, por muito pouco não passaram por cima dela. Graças aquele senhor e ao rapaz ela sobreviveu.
Estávamos decidindo o que fazer... Quando sem pensar muito o rapaz voltou a pé e jogou o casaco na calçada dizendo: "vi no google que tem um veterinário a 500m daqui, vamos embrulhar a cadelinha e leva-la a pé"... Aquilo não me pareceu a melhor ideia.
Foram segundos mas, o olhar de amor daquele ser por um animal que não conhecia, de uma cidade que não era a dele, ocupando o seu "tempo" tão precioso me fez enxergar uma trajetória bem mais simples e mais agradável para a plenitude.
Dentro dos cálculos rápidos e da relação enorme de coisas que eu tinha ainda para fazer, estava a vontade de participar também deste sentimento de doação e sinceridade.
Pedi para ficarem com ela enquanto eu pegava meu carro e uma coberta, cada passo uma confrontação... Cada segundo, uma pergunta sobre do que somos feitos e para que existimos.
Voltando, o senhor já havia ido embora e vi o rapaz sentado na calçada ao lado da cadelinha, conversando com ela e a acalmando... Outro soco na minha racionalidade, na minha tese de que a humanidade está indiferente.
Nada foi pouco... Foi um presente!
Resgatamos, levamos a bichinha para o veterinário... Encontramos a dona dela e ela voltou para casa no dia seguinte, após os exames... Todos felizes.
Despedi-me do rapaz e agradeci a ele pela atitude e cuidado com ela.
Dentro de mim agradeci por ter tido a oportunidade de rever o uso dos meus dias, minhas horas... Meus segundos.
Nada ficou fora do lugar e ganhei alguns amigos.
Fica a lembrança dos cachos negros, como um anjo de amor, e a esperança de que existam mais seres assim.

(Juliana Priori)



quarta-feira, 28 de março de 2018

As melhores coisas da vida ... Não são coisas (roubei esta frase por que é perfeita)

Estava eu preparando uma nova receita, final do dia, tudo certo... Quase tudo... Faltava um ingrediente...Creme de leite seu pestinha... Sol baixo, clima fresquinho, decidi ir a pé.
O supermercado fica próximo a minha casa, uns três quarteirões e, com a Páscoa se aproximando... Bora fazer um pouco de exercício não é mesmo? Lá fui.
Chinelo, short e camiseta abri o portão da rua e... Pinguinhos, micro pingos.
Olhei para o céu e estava meio a meio, eu tinha a escolha de voltar e ir de carro ou arriscar, optei pela segunda.
Caminhar sempre foi algo que eu gostei de fazer e adoro meu bairro, suas calçadas irregulares e árvores então o que podia dar errado?
Cheguei ao meu destino e comprei o bendito creme de leite mas... Como sempre, nunca saio do supermercado sem comprar três vezes a quantidade de coisas que eu inicialmente iria comprar.
Quatro sacolas e a vontade de chegar logo em casa, fazer tudo e curtir o resultado.
Piso fora do supermercado e aquela chuva caindo... Ops... Esperei, esperei, esperei... Não parava mas, também não estava mais tão forte... Comecei meu retorno.
Uma chuvinha gostosa caindo e eu pensei, se continuar assim beleza.
Engrossou... Huuummm ... Pensa, pensa cabecinha... Um pé de jasmim a frente com a copa bem juntinha, perfeito! Fiquei lá quietinha e a chuva deu uma trégua, continuei a andar e foi como se meus pés tivessem conexão com os céus.... Chuva grossa de novo, eu molhada, com as quatro sacolas, xingando a hora que decidi ir no supermercado a pé mesmo SABENDO que ia chover.... Arrrr .... Eu queria me bater.
A frente vi outro pé de jasmim e parei novamente brava, de mau humor, pensando que nem o celular levei... Tutti bella cosa... Arrrr.
Parou uma caminhonete próxima a mim e eu pensei, glória a Deus... Ele deve ter tido o aprendizado de domingo para não sermos indiferentes com o próximo... Uma alma boa que viu esta pobre coitada, encharcada e vai me dar uma carona. Pode parecer loucura mas, eu realmente esperava uma carona. Infelizmente ele não viu o aprendizado de domingo, e foi embora... Mas, que alma desalmada.
A chuva parecia estar gostando dali pois, nem mais as folhas juntinhas do jasmim estavam segurando a enchente no meu esconderijo.
Foi ai que me vi sem opção... Sozinha, sem celular, há dois quarteirões de casa.
Parei. Respirei. De repente... Senti o perfume do jasmim... Foi uma volta no tempo e no espaço e me remeti a Candeias na casa da minha mãe... Aquele perfume era familiar.
Olhei para mim... Não tinha um centímetro do meu corpo que estivesse seco, olhei para o céu e a minha amiga chuva não estava pensando em parar. Olhei além e vi as nuvens, os raios, senti os pingos molhando meu rosto, nossa... Que nostalgia... Minha infância, adolescência, quantas e quantas vezes na praia em Candeias, começava a chover e não tínhamos para onde ir... Lembrei da areia e os pingos desenhando nela... Voltei, e vi o asfalto e as correntezas que os meio fios provocam.
Olhei para mim, o meu passado, o meu presente... Sim... O meu presente era este... Chuva no rosto, cabelos ensopados, andei... Sem pressa.
Cada minuto seria valioso pelas lembranças que me trouxeram, pela experiência de tomar um belo banho de chuva, pela sensação deliciosa que os pingos grossos estavam causando na alma.
Uma poça aqui e outra ali... Muitos carros passavam e será que me viam? A louca andando feliz na chuva? Não sei... Na verdade não queria saber.
As calçadas eram como aventuras para uma nova brincadeira.
Cheguei no meu prédio e cruzei com uma vizinha correndo fugindo da chuva e eu... Calma... Eu não queria chegar, foi bom, foi profundo.
Olhei para ela e ela olhou para mim... Meu olhar foi de não entender o porque ela olhava para mim espantada, foi tão bom... Sorri e entrei.
Minha filha quase caiu quando me viu entrar... Eu só disse... Há, que delícia.
Tomei um banho quente, preparei meu chocolate e sentei para escrever.
Faz tempo que não escrevo e isso me inspirou.
Como sou agradecida por estes momentos... Obrigada creme de leite.

(Juliana Priori)

sábado, 29 de abril de 2017

Pedaço

Voltei ao passado outro dia com lembranças da minha adolescência.
Tentei colocar-me no lugar dos adolescentes de hoje em dia... Com seus medos e expectativas.
Sim... Eu chorava mais do que ria... Pensei em sumir, fugir, morrer várias vezes... Nada era pouco.
Tudo intenso, demorado para mim, rápido para o mundo:
- "Nossa como você cresceu!!!"
E era assim... O mundo estava todo ao meu alcance... Se resumia na minha rotina... Colégio, academia, casa, estudo.
Eu não saía muito e cada saída era um evento. 
Eu lia... E viajava no mundo dos livros, lá eu estava protegida, podia fechar e pronto! Acabava a história.
Era uma menina calma, explodindo por dentro mas, eu preferi esperar, crescer e amadurecer.
Um tema atual me preocupa muito, o suicídio entre adolescentes.
Fui abençoada com dois filhos numa família falante e debatedora.
Somos diferentes, pensantes e gostamos de expor nossos pontos de vista.
Esta liberdade me permitiu ir um puco mais fundo com minha filha que fará em breve 16 anos.
Em uma conversa recente sobre a série Thirteen Reasons Why ela expôs-me um outro lado, mais humano, mais real.
Eu comecei questionando sobre o que acontece na série... Se acontece de verdade e a resposta foi sim, dentro de intensidades e quantidades diferentes... Gelei!
A calma só veio quando percebi como ela viu tudo isso, sob uma ótica muito humana em avaliar os dois lados.
Infelizmente existem muitas famílias desestruturadas criam filhos com uma desordem tal, que a mente jovem, que está se formando, não tem referências e nem segurança para fazer escolhas boas e consequentes.
Minha menina me deu uma aula e isso me tranquilizou... Sou amante da liberdade mas, tenho rédeas curtas na hora de orientar e permitir certas situações que acredito não fazer parte ainda do universo adolescente.
Um aperto no peito cada vez que sei de um caso de suicídio... São gritos silenciosos e precisam da ajuda da família, da escola, dos psicólogos... De nós!!!!
Sim... Não podemos nos omitir ao presenciar algo, mesmo que o filho não seja nosso.
Mais amor e compreensão!

(Juliana Priori)



quarta-feira, 23 de março de 2016

Onde nosso grito ecoa

Momento de incertezas e indecisões,
Faz quase um ano que escrevi pela última vez...
Um ano com muitas mudanças, altos e baixos.
A luz no fim do túnel, tornou-se fraca e ter esperança, algo para fortes ou loucos...
Uma dor dentro de nós... Uma ferida que não cura,
Um país afundando...
Como utilizar os princípios aprendidos e ensinados?
Se nossa voz não é ouvida, se nosso grito cada dia fica mais abafado...
Quero paz,
Quero força,
Quero meu país de volta!!!

(Juliana Priori)

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Páscoa

Renascer... É mais,
É forte,
É belo.
Da terra, das cinzas, da dor,
Renascer é mais!!!
É o grito, o choro, a luz...
É tudo que nos faz levantar,
Quando não há mais forças.
Quando achamos que a esperança acabou!
Renascer é mais,
Pois quem nasce existe, mas, nem sempre vive.
Quem renasce ... Vive, convive, cai e levanta!!!
Isto é a Páscoa dentro de nós.
Renascer, ressuscitar sempre...
Muito mais do que apenas nascer.
Para que nossos dias sejam melhores,
E para que nossa existência valha a pena!!!

(Juliana Priori)